2016 - Cartografias |
Textos do Catálogo2012/16 – CARTOGRAFIAS
O ciclo Cartografias traduz em termos matérico, ciclos anteriores como “Paisagem Matérica”-1999, e “Espírito e Matéria”- 2002. Porém, desde 2012, Cartografias foi sofrendo várias transmutações, traduzindo agora maior consistência, fruto de uma reflexiva interiorização espiritual, já que, cartografar é aqui de natureza anímica. Ao projetar segundo um sistema de múltiplas colagens, fica o pressentimento, progressivo, inacabado, contudo, cada vez mais seguro, de estar a cartografar. O traço torna-se visível, notório; as formas, as texturas, os volumes adensam-se deixando entrever as superfícies terrestres que emergem, imponentes, a partir de massas geolíticas, manchas, linhas que, como signos caligráficos, se assemelham a cartas cartográficas, esplanadas em paisagens pictóricas. Teresa Ribeiro Cartografias, mesmo!
Ao que parece, terá sido Manuel Francisco Carvalhosa, 2.º visconde de Santarém, a inventar a palavra "cartografia" – ou, pelo menos, a dar-lhe significado preciso, lá por meados do século XIX. De qualquer modo, cartas/mapas foram coisas de mar e terra desde cedo muito coisa de portugueses, ajudando em navegações difíceis e explorações terrestres não menos complicadas. E, como agora vemos, de igual modo caras a Teresa Ribeiro… É que, quem tem vindo a acompanhar a obra da artista, é inevitavelmente levadoa verificar que, de facto, de cartografias ela é feita. Na realidade, tanto a série "Movimento dos Sons" (1993), como a de "Paisagens matéricas" (1999) e a de "Espírito da Matéria" (2002) – talvez as mais significativas neste particular cadastral geográfico –, se apresentam (até pelas designações) como registos bem definidos, nas suas latitudes e longitudes mentais de espaços, signos, essência pictórica, geometrias e volumes, ideários e sensações. Sim, sensações, aquilo que em princípio se procura ao observar uma obra de arte. E que nesta série elaborada desde 2012 até agora nos surgem eivadas de dramatismo – já que, por azar do destino, são mostradas num tempo incompreensível de desprezo pela vida humana, em que rios de sangue escorrem para o nosso quotidiano, pontuandouma cartografia que compreendetopónimos como Nova Iorque, Columbine, Utoya, Paris, Bruxelas… Enfim, a artista não o terá procurado conscientemente e pode parecer abusivo o palavreado de quem lhe apresenta a mostra. Mas nestes diasé quase inevitável a associação, pela violência das manchas vermelhas que Teresa Ribeirocoloca nos suportes, no entanto em contraste com mares de calmaria azul. Por outro lado, sublinha os seus mapas com o esgrafitado nervoso que de há muito lhe marca a obra e imaginárias manchas de névoa. Algumas peças são até rasgadas por meridianos e paralelos que dão enquadramento aos territórios pictóricos que se pretende cartografar, disciplinada ou aleatoriamente. Digamos que com este conjunto de massas coloridas e caligrafias abstractas, as cartas com que Teresa mapeia o espaço se tornam parte da nossa geografia pessoal e colectiva, do nosso atlas humano de seres complexos e diversos, de inúmeras vivências definidas por múltiplas coordenadas e outros tantos azimutes. Porque não somos de um único ponto, de um único pólo, de um único continente. Por isso, também, esta exposição se torna tão fascinante. Joaquim Saial março-2016 |
Catálogo da Exposição
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