1996 - Anunciação de um Espaço |
Textos do CatálogoANUNCIAÇÃO (CONSTRUÇÃO) DE UM ESPAÇO
Nestes quadros preponderam o ocre, o castanho, o laranja e o preto. E o observador desprevenido, numa primeira abordagem, neles vislumbrará porventura tonalidades do continente negro – não apenas as do omnipresente elemento telúrico mas também as da flora e da fauna que na largueza da savana com ele quase sempre se mesclam. Porém, Teresa Ribeiro não teve em mente a feitura de um qualquer memorial africano, mas tão só – o nome desta mostra assim o regista – a anunciação de um espaço, num óbvio diálogo entre linha e cor, dois elementos que no essencial marcam a pintura desde a sua génese. Porque é pintura, no mais puro sentido do termo que aqui nos é apresentada. Mantendo compreensíveis e assumidas ligações ao passado recente, a artista depurou a sua "maneira", realizando aquele que será o maior salto qualitativo desde que abandonou a tapeçaria para se dedicar em exclusivo à pintura. Algumas massas planturosas de "Imaterialidade da Matéria" (1991), a gestualidade abstracta não atingida por completo em "Movimento dos Sons" (1993) (com colagem de pautas de música originais) e o trajecto já mais decididamente pictórico de "Ecce Homo" (1994) e "Reencontros de uma Alegoria Onírica" (1995) deram lugar à presente vintena de peças em que a essencialidade de formas é uma das características dominantes. Só na aparência fácil, trata-se afinal de um trabalho "sofrido", como a pintora nos confessou. O meticuloso cuidado posto na abordagem (diríamos construção) do espaço, que produz surpreendente efeito estético, manifesta-se no rigor aplicado à aliança da linha com a cor, no dramático constraste entre as superfícies lisas e texturadas (nuns casos bens circunscritas, noutros parecendo fugir dos limites impostos pela linha) e ao sábio jogo entre curvas longas e rápidas e entre estas e as rectas. Cabe registar que, intencionais ou não, vagas formas anatómicas nalgumas obras afloradas (mais pressentidas do que na realidade visíveis), oferecem a estes quadros um gentil toque de reconhecimento - "malgré tout", sempre desejado pelo espectador da obra abstracta. E, por que não dizê-lo, desejável? Joaquim Saial Abril/199 |
Catálogo da Exposição
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