2001 - Espírito e Matéria |
Textos do CatálogoPARA O CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO ESPÍRITO E MATÉRIA, DE EXPOSIÇÃO
Galeria de Exposições Augusto Cabrita – Fórum Cultural do Seixal O trabalho artístico de Teresa Ribeiro é fruto de uma forte pesquisa e de uma procura permanente em encontrar o fio condutor de toda a sua arte para descobrir na sua abstracção a expressão mais marcante do seu processo criativo. A exposição Espírito e Matéria que se apresenta na Galeria de Exposições Augusto Cabrita – Fórum Cultural do Seixal é exemplo desse gosto pelo abstracto, reforçado pela utilização de cores quentes, onde predominam os ocres. Teresa Ribeiro é portadora de uma forma particular de pintar, utilizando a colagem sobre tela para redimensionar a composição plástica e, assim, separar todos os elementos para posteriormente, através da cor e da textura unificar todo o espaço pictórico. Deste modo, assistimos a uma interpretação própria e a uma forma muito peculiar de entender o universo que a rodeia, portadora de uma sensibilidade feminina que se encontra na unificação dos opostos (espírito e matéria) o significado pleno do seu trabalho. É impossível ficar indiferente à arte de Teresa Ribeiro pela empatia que estabelece com o espectador que tem o privilégio de contactar com os seus trabalhos, repletos de magia e sedução. Vitória Pinheiro 2001 A Vesúvica Metáfora
Luís Borges escreveu algures: “talvez a história universal seja apenas a história de umas quantas metáforas”. Diante destes trabalhos de Teresa Ribeiro pergunto-me se toda a pintura não é a fixação de uma delas – a dos vesúvios que avassalam Herculanos. Com a insistência na colagem e no pastel de óleo, com a persistência quase minimalista do seu discurso cromático, a pintora extorna a ígnea paixão da branca profundidade do nada, que o papel/tela inicialmente foi, e na paixão crestam-se massas sedimentares, também lávicas, cujo peso específico arrasta para o talvegue das sensações. Como se a crosta se rasgasse para turbulências epidérmicas, voláteis, que o fálico vulcão adjecta. Há erotismo neste diálogo das cores repetidas, quentes. Há espasmos orgásticos. Matéria e Espirito fusionam-se aqui, e defrontam-se, conjugam-se e separam-se, envolvem-se e repousam-se, enlaçam-se e respiram-se, informam-se e disformam-se. Sempre uma, com o outro: Espírito e Matéria. Bailam. Rodopiam. Acasalam. São um todo, no qual cada uma das partes, ora se distende, ora se anicha e se reduz. Na tela, as cores concretizam o arfar de corpos que buscam uma insaciável saciedade. Com os sintagmas do pintor – as cores, as manchas, os ritmos – Teresa Ribeiro escreve a lírica sua. E as metáforas evoluem. São ondas. São crespações. Palpitações. Ansiedades. Vibrações corporais. Ar e água, terra e fogo, a feminina natureza, onde a máscula matéria é arrancada do útero do espírito, âncora e navio no mar das porcelas. O mito genésico transportado à cor, arma excelente da pintura. O que surpreende: esta veemência, este êxtase quase místico, que tanto nos reporta a Florbela Espanca como a Mariana Alcoforada é aqui celebrizada. Dir-se-ia que Teresa Ribeiro se distancia da objectualidade para a dissertar, para a pesquisar, para afastar de si o cálice dos sentidos. Para o exorcizar. E isto fabrica a estranheza destes testemunhos, a um tempo apaixonados e sóbrios, a um tempo febris e esfíngicos, mas sempre requintadas interjeições diante do mistério da vida. Na aventura da sensualidade, estes sutras que Teresa Ribeiro nos revela discorrem sobre vulcões da alma, que são os vulcões dos corpos – os vesúvios que sempre assustam as Herculano, até que as subjugam e as subjazem, as mineralizem. Nuno Rebocho, Jornalista 2000 |
Catálogo da Exposição
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