1993 - Movimento dos Sons |
Textos do CatálogoDe Quando as Cores têm Som
No trabalho de Teresa Ribeiro, criadora continuamente comprometida na procura de novos rumos para a sua arte, verifica-se uma constante evolução, agora elevada a nível nunca antes atingido. O aspecto espesso, diríamos até algo biológico, de quadros apresentados em finais de 1991 (plenos de “vigor telúrico” e matérico, como então algures referimos), deu lugar a sentidas e luminosas pinturas-colagens inspiradas na escrita musical, a partir de pautas originais do compositor brasileiro Eli Camargo Jr. “Movimento dos Sons” – assim se chama este novo conjunto de obras – surpreende pela facilidade com que a artista conseguiu fazer a junção entre duas artes, afinal próximas: Pintura e Música. As pautas, em teoria, só têm utilidade quando os signos nelas patentes são lidos e executados pelos músicos. Fora isso, são tão desconsideradas que até servem para caracterizar o efeito de excessivas libações alcoólicas. Porém, o anónimo autor do lugar-comum “boca a saber a papéis de música”, ao sublinhar apenas o aspecto gustativo, não levou em linha de conta a excepcional qualidade visual da sinalética que os mesmos sempre contêm. Teresa Ribeiro, apercebendo-se dessa característica do texto musical, resolveu utilizá-lo nas actuais composições, trazendo-o para o suporte do quadro, juntando-lhe a tinta e outros materiais e grafismos, em interessante e profícuo casamento de “conveniência”, no qual os nubentes, sem se anularem, vivem das potencialidades comuns. Uma paleta curta mas enérgica e raras palavras adequadas ao tema, como fuga, adágio ou sons, servem estas paisagens musicais que nos podem aparecer muito próximas ou arredadas devido à interposição do papel vegetal, num propositadamente incomodativo jogo de perto e longe, ao qual o relevo das colagens dá cumulativo complemento “geográfico”. Nos quadros maiores, a pintura parece abafar a música. Dir-se-ia que a força da tinta supera a dos sons, rebelando-se aquela contra estes. Nos de menores dimensões, o equilíbrio é quase perfeito, a união é quase total e a confluência das duas artes beneficia ambas. A pintura adquire outro sentido com a adenda da forma escrita das notas musicais; estas ganham novo significado pois a melodia, timbre, harmonia e ritmo que transportam são dados ao leigo pela pintora – a qual, assim, quase desfaz o hermetismo escrita musical, ao adicionar-lhe uma outra, mais inteligível, pictórica. Segura das técnicas e materiais que utiliza, “alquimista da cor e da forma”, como já lhe chamámos – a partir de agora, também dos sons – Teresa Ribeiro, qual mulher-aranha, vai tecendo tramas entre diferentes disciplinas (não é em vão que também pratica a tapeçaria), fundindo-as, alargando-lhes o âmbito, esbatendo aparentes antagonismos e criando uma arte simbiótica, muito própria, passível de longos desenvolvimentos. Joaquim Saial Catálogo da exposição Galeria Municipal de Alverca 1993 |
Catálogo da Exposição
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